A fabricação de um interior para o Brasil: o Alto Sertão e as lutas de independência
A definição do território concernente à nação brasileira, no processo de independência e constituição do Império do Brasil, foi espaço de embates e tensões sociais. Insurreições, como em 1817 e 1824, e movimentos sociais, no período regencial, sobretudo ocorridos nas chamadas Províncias do Norte, descortinaram – e foram resultado – a disputa em torno do controle e delimitação desse espaço, em especial o interior, chamado de sertão, como pertencente ao estado territorial brasileiro e, portanto, parte do “gigante pela própria natureza”D. Tais eventos apontaram para a percepção do Brasil como um território constituído de vários outros territórios, com um sertão vasto e desconhecido, e, hipótese principal desta pesquisa, um “Alto Sertão” ainda mais distante de seu domínio. Aqui, importa superar uma discussão que restringe a análise de um estado territorial brasileiro forjado na declaração de independência e definido pela carta constitucional de 1824 e da contrapartida “regional” vista na aceitação historiográfica de um território parte – e um espelho – do Império. Ao contrário, pelo menos parte desse espaço, entendido como Alto Sertão, é percebido a partir da sua constituição, tensões e formação que fugiam da percepção, e das regras, do poder imperial e da própria organização territorial que se procurou instituir na formação da nação brasileira. A disputa pelo sertão era estabelecida na organização de um projeto de centralização administrativa do Império e de formação de um Estado-nação moderno no Brasil, a partir da expansão da Pátria Independente do litoral para o interior do território. Tal projeto sugeria a preocupação com um espaço desconhecido, que deveria ser finalmente integrado à órbita de dominação política imperial. Espaço este cujo distanciamento era mensurado no domínio do governo imperial sobre o território e seus habitantes. Desse modo, a pesquisa aqui proposta, se propõe a mapear os limites e definições o ‘Alto Sertão’ do Brasil.
Coordenadora: Ana Sara Ribeiro Parente Cortez Irffi